quinta-feira, janeiro 22, 2009

INSPIRAÇÃO/ REVELAÇÃO: O QUE É ISSO E COMO FUNCIONA

A RELAÇÃO ENTRE OS ESCRITOS DE ELLEN G. WHITE E A BÍBLIA

Este é um assunto de suma importância, que tem gerado equívoco por parte de alguns; por isso resolvi postar aqui no blog. Peço por gentileza que os interessados leiam com calma e prestem bastante atenção, em especial modo os críticos. E não se esqueçam de conferir as referências.
Introdução

Talvez não haja assunto mais mal compreendido nas crenças dos adventistas do sétimo dia do que a questão da relação adequada entre os escritos de Ellen G. White e os da Bíblia.

Uma comparação dos escritos de autores cristãos como Walter R. Martin,1 Norman F. Doughty 2 e outros que escreveram criticamente sobre as crenças doutrinárias dos adventistas, com algumas das declarações freqüentemente citadas dos próprios escritores adventistas, que parecem apresentar posições diferentes, se não conflitantes, faz-nos pensar se talvez nós próprios, da igreja, é que somos os responsáveis por causar parte da confusão lá fora!
Por exemplo, tomemos a definição de duas palavras que usamos com freqüência nesta apresentação de três partes: inspiração e revelação. O ex-pastor adventista Walter Rea, seguindo Webster, vê a inspiração como sendo “a influência divina direta ou imediatamente exercida sobre a mente ou alma dos homens”. Rea rotula isto como “subjetivo”. A revelação é vista como “a comunicação que Deus faz de Si mesmo e de Sua vontade a Suas criaturas”; isto Rea rotula como “objetivo”. 3
Depois de definir objetivo e subjetivo, Rea alega que esta revelação objetiva possui autoridade, enquanto que a inspiração subjetiva não possui. A revelação objetiva, aos olhos de Rea, está relacionada a fatos e planos de ação, enquanto que a revelação subjetiva é vista como estando associada a valores e opiniões pessoais.
Rea então tira a conclusão de que os pronunciamentos de Ellen White transmitem, em sua maioria, inspiração subjetiva. Isto é, consistem principalmente de valores ou opiniões pessoais (ou dela, ou das pessoas que a influenciaram, ou de autores de quem ela copiou). Como tais, seus escritos não possuem virtualmente qualquer autoridade de Deus, a menos que possam ser provados por outras fontes, preferivelmente a Bíblia. 4
John J. Robertson, em seu livro The White Truth (“A Verdade White”), 5 discorda desta dicotomia subjetivo/objetivo. Para ele, “a revelação representa a atividade de Deus como quem envia uma mensagem a Seu profeta escolhido. A inspiração representa a atividade de Deus sobre o profeta ou dentro dele, que então se torna o transmissor dessa revelação ao Seu povo.” 6
Eu também discordo da dicotomia subjetivo/objetivo projetada por Walter Rea, mas preferiria definir os termos – de maneira um pouco diferente de Robertson. Tomando emprestada em parte a definição de Raoul Dederen, sugerimos que a inspiração pode ser considerada um processo pelo qual Deus capacita o profeta a receber e comunicar Sua mensagem, enquanto que revelação é vista como o conteúdo da mensagem assim comunicada. 7
Um estranho ao adventismo, lendo estes três conjuntos de definições, talvez possa ser desculpado por se perguntar se a igreja realmente tem uma teologia coerente! O mesmo tem acontecido com nossos pronunciamentos sobre a relação dos escritos de Ellen White para com a Bíblia.
Dentro da igreja também tem havido alguma confusão sobre os escritos da Sra. White, bem como um pouco de abuso e mau uso deles. Alguns membros de fato têm feito deles uma segunda Bíblia, parecendo com freqüência considerar a Sra. White o mais importante dos dois. Alguns ministros e professores têm citado a Sra. White dez vezes ou mais para cada passagem da Bíblia; alguns têm até pregado sermões do tipo “trem de carga” (a locomotiva é a introdução do sermão, seguida por uma fileira de vagões de carga – citações da Sra. White; e por fim vem o último vagão, a conclusão do sermão). A frustração e irritação experimentada por um motorista que fica esperando passar um longo e lento trem de carga é quase idêntica aos sentimentos de exasperação e ira por parte daquele que é forçado a ouvir este tipo de monstruosidade homilética.
Os escritos da Sra. White também têm sido mal usados por pais, professores e pregadores, que têm usado declarações deles como uma palmatória teológica com a qual se corrige o ofensor para fazê-lo submeter-se.
Contudo, este mau uso, quer por proponentes do conceito de que os escritos de Ellen White são uma segunda Bíblia (ou mesmo um adendo à Bíblia), ou por outras aplicações errôneas, não é a posição da igreja adventista do sétimo dia, mesmo que estas posições sejam adotadas por alguns de seus membros bem-intencionados mas mal-informados. E, como diria John Quincy Adams, “Argumentos extraídos do abuso de alguma coisa não são admissíveis contra o seu uso.” 8 Em outras palavras, “Não jogue fora o bebê junto com a água do banho!”
Qual, então, é realmente a posição da denominação com respeito à relação adequada entre os escritos da Sra. White e a Bíblia Sagrada?
Segundo entendo, afirmamos que Ellen G. White foi inspirada da mesma forma e no mesmo grau que os profetas bíblicos; mas – e isto será paradoxal para alguns – não fazemos dos escritos dela uma segunda Bíblia, ou mesmo uma adição ao cânon sagrado da Palavra de Deus.
Deixe-me explicar:
A Palavra de Deus através dos profetas
Os adventistas do sétimo dia crêem que o cânon sagrado da Escritura foi encerrado com a inclusão do Apocalipse de João. E o cânon, portanto, é tanto completo quanto suficiente em si mesmo. Em outras palavras, é possível para uma pessoa encontrar Jesus Cristo, obter salvação e vida eterna, sem jamais ter ouvido Ellen G. White ou lido uma só palavra de seus escritos.
Os adventistas, além disso, desde seus primeiros dias, têm mantido tradicionalmente a posição de que as Escrituras são a fonte de nossas crenças doutrinárias, a autoridade dessas crenças, e o teste de todas as crenças (e também de toda experiência religiosa).
Contudo, tendo dito tudo isso, é também claramente evidente pela Bíblia que Deus também usou vários mensageiros proféticos, muitos deles contemporâneos dos escritores bíblicos, mas cujos pronunciamentos não formam parte do cânon em si.
Alguns deles fizeram seu trabalho durante os tempos do Velho Testamento, alguns durante os tempos do Novo Testamento. Parece evidente que o ministério profético deles envolvia o mesmo tipo de trabalho que o dos escritores bíblicos. E esta lista de profetas não-canônicos incluiu tanto mulheres quanto homens – cinco destes mencionados em cada um dos testamentos.
9
O primeiro profeta mencionado na Bíblia foi Enoque, “o sétimo depois de Adão” (Judas 14); assim o “dom espiritual” da profecia esteve entre os primeiros dos assim chamados “dons do Espírito Santo” a serem concedidos à família humana. Durante os primeiros 2500 anos da história humana todos os pronunciamentos proféticos foram orais. Moisés marca o ponto de transição: ele foi o primeiro profeta literário. Deste momento em diante ambas as variedades de profetas floresceram.
Profetas literários mas não-canônicos
Nem todos os profetas literários, porém, se encontraram como autores de obras que mais tarde seriam adicionadas ao cânon do Velho ou do Novo Testamento. Pelo menos oito profetas literários mas não-canônicos são mencionados por nome no Velho Testamento.
Jasar foi o primeiro, quinze séculos antes de Cristo, talvez só uns 40 anos após o tempo de Moisés. Embora o Livro de Jasar seja mencionado tanto em Josué 10:13 quanto em II Samuel 1:18 (ARA - Livro dos Justos), este livro não foi incluído no Velho Testamento.
Quatro séculos e meio mais tarde, “Natã o profeta” e “Gade o vidente” escreveram livros (leia: I Crônicas 21:9; 29:29; II Crônicas 9:29; 29:25) 10 durante o reinado do rei Davi; mas conquanto os salmos deste foram incorporados ao Velho Testamento, os livros dos primeiros não o foram.
Cerca de duas décadas mais tarde Aías, o silonita, foi o autor de escritos profeticamente inspirados, 11 (leia: II Crônicas 9:29; I Reis 11:29; 14:7) e outros 20 anos mais tarde vieram o profeta Semaías 12 (leia: II Crônicas 12:15) e o vidente Ido 13 (leia: II Crônicas 9:29; 12:15; 13:22) como profetas literários mas não-canônicos.
Então, cerca de 20 anos depois disto, Jeú escreveu um livro profético inspirado 14 (leia: I Reis 16:1, 7; II Crônicas 19:2; 20:34) e o último dos profetas literários mas não-canônicos (pelo menos dos mencionados na Bíblia) foi Elias 15 ( leia: II Crônicas 21:12) no início do século nono antes de Cristo.
Vem imediatamente à mente a pergunta: se estes homens foram verdadeiramente
inspirados, por que seus escritos não foram incluídos no Velho Testamento?
Alguns já sugeriram uma pronta solução: os escritos deles, embora inspirados, não eram tão inspirados quanto os dos autores bíblicos. Esta idéia de graus de inspiração tem uma longa história no adventismo; uma variação deste tema veio à tona em nosso próprio tempo. 16
Uma hipótese de validade igual (se não superior) é que as mensagens destes escritores proféticos literários mas não-canônicos eram de natureza local: foram escritas para atender a uma situação imediata de sua própria época. O Espírito Santo em Sua sabedoria infinitamente superior achou que era necessário preservar essas mensagens para períodos posteriores da história.
Graus de inspiração?
Oferecemos agora três argumentos contra o conceito de graus de inspiração (ou graus de revelação):
a. A partir de observação empírica: o registro bíblico não faz diferença entre profetas canônicos e não-canônicos quanto à fonte de suas mensagens, nem na “cadeia de comando” empregada na comunicação das mensagens desde a Divindade até o profeta.
Não há diferença no método de comunicação; nenhuma diferença com respeito aos fenômenos físicos associados com um profeta em visão; nenhuma diferença no tipo de mensagens comunicadas – encorajamento, conselho, admoestação, reprovação, censura; nenhuma diferença nos tipos de “imperfeições” dos “vasos de barro”; nenhuma diferença na resposta que as mensagens provocaram – alguns ouvintes as atenderam e foram abençoados, outros as desconsideraram e sofreram as conseqüências.
Admitimos ser este o argumento do silêncio; mas é irrazoável afirmar que o ônus da prova cabe à pessoa que quer estabelecer diferentes graus de inspiração?
b. A partir da lógica: levantar a questão de graus de inspiração (ou revelação) imediatamente cria a necessidade de determinar exatamente quem fará a classificação. Tal árbitro precisa necessariamente ser elevado não simplesmente ao nível do profeta, mas a um nível acima do profeta, já que ele é quem faz o julgamento, decretando que uma parte dos escritos do profeta é mais inspirada que outra.
Este problema é ainda mais complicado porque nenhum homem pode se elevar mesmo ao nível de um profeta – muito menos a uma posição acima da do profeta. Paulo afirma claramente que o Espírito Santo divide os dons espirituais a cada um “segundo a sua vontade” (I Coríntios 12:11; Hebreus 2:4). “Ninguém, pois, toma esta honra para si mesmo”; o máximo que qualquer ser humano, por si, pode fazer, é “[procurar], com zelo, os melhores dons” (I Coríntios 12:31). Certamente nenhum mero ser humano deve presunçosamente se colocar acima dos profetas para determinar uma questão como esta!
c. A partir da fé: Aceito Ellen White como uma profetisa inspirada do Senhor, e ela certa vez declarou que não existem graus de inspiração. E isso, se não houvesse nenhum outro argumento, seria suficiente para resolver o assunto para mim.
Ninguém menos que o presidente da Associação Geral, George I. Butler, certa vez discorreu sobre o assunto da inspiração e revelação. Em seus dez artigos, que foram publicados de 8 de janeiro a 3 de junho de 1884 na Review and Herald, Butler expôs a idéia de que havia “diferenças em graus” de inspiração. 17
Ellen White permaneceu em silêncio por cinco anos. Será que ela estava caridosamente esperando que ele descobrisse seu próprio erro e o corrigisse, poupando assim a si mesmo (e a ela) o embaraço de uma censura pública?
Não sabemos; contudo, em 1889 ela escreveu uma resposta bastante incisiva:
“Tanto no Tabernáculo [de Battle Creek] como no colégio tem sido ensinado o assunto da inspiração, e homens finitos se têm arrogado dizer que certas coisas nas Escrituras foram inspiradas e outras não. Foi-me mostrado que o Senhor não inspirou os artigos acerca da inspiração publicados na Review. Quando os homens se atrevem a criticar a Palavra de Deus, atrevem-se a pisar em terreno santo, sagrado, e melhor lhes seria temer e tremer e esconder sua sabedoria como loucura. Deus não designou homem algum para proferir juízos sobre Sua Palavra, escolhendo umas coisas como inspiradas e desacreditando outras como não inspiradas. Os testemunhos têm sido tratados da mesma maneira; mas Deus não está nisto.”
18
Graus de autoridade - uma posição insustentável
Alguns que favorecem a idéia de graus de inspiração (ou revelação) têm promovido recentemente a idéia de que profetas também têm graus de autoridade. Esta última posição é tão insustentável quanto a primeira, em grande parte pelas mesmas razões.
Empiricamente não há qualquer evidência bíblica de que um grupo de profetas tivesse mais – ou menos – autoridade do que outro grupo.
Contudo, se houvesse, realmente, graus de autoridade, como seriam determinados? E por quem?
A experiência do rei Davi com dois profetas literários mas não-canônicos que ministraram durante seu reinado pareceriam fornecer evidências contra os graus de inspiração ou autoridade.
Natã. Na parte 2 discutimos o problema do entusiástico endosso de Natã ao plano de Davi de construir um templo, sem primeiro consultar a Deus para ver se o plano tinha Sua divina provação. Não tinha, e naquela noite Deus falou a Natã dizendo-lhe que voltasse ao rei e corrigisse a mensagem anterior (II Samuel 7:1-17).
Cinco capítulos depois encontramos Natã de volta no palácio, por orientação de Deus, para repreender Davi pelos seus pecados gêmeos de adultério com Bate-Seba e assassinato do marido dela, Urias. Usando o disfarce de uma parábola, Natã corajosamente faz Davi entender a enormidade de seus crimes; e Davi, convencido pelo Espírito Santo através de Seu mensageiro, se confessa e se arrepende. Natã então assegura a Davi que Deus havia aceito seu arrependimento e o havia perdoado (II Samuel 12:1-14).
Natã adverte, porém, que conseqüências inexoráveis resultarão dos atos de Davi. Estas conseqüências ainda ocorrerão apesar do generoso e misericordioso perdão de Deus (versos 15-23). Mais tarde, partindo de seu genuíno arrependimento e remorso, Davi escreveu o Salmo 51, no qual ele apela a Deus: “Apaga as minhas transgressões ... purifica-me do meu pecado. Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável. Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da tua salvação ... Então, ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores se converterão a ti” (versos 1, 2, 10-13). E Deus lhe concedeu este desejo sincero.
Tanto Natã quanto Davi foram profetas. Algumas centenas de anos mais tarde, quando o cânon do Velho Testamento ia ser formado (talvez sob a supervisão de Esdras), o Livro de Natã não seria incluído, mas os salmos de Davi seriam. Assim, Davi se tornaria um profeta canônico, e Natã um profeta não-canônico. Sabemos deste encontro não porque ele se ache no Livro de Natã, mas porque o autor de II Samuel 12 o incluiu em seu livro.
19 Se por acaso tivesse sido dada a Davi uma visão do futuro, na qual ele fosse informado de seu subseqüente status, e do de Natã, e se Davi tivesse adotado a fantasiosa teoria dos graus de inspiração, talvez tivesse logicamente ocorrido o seguinte diálogo:
Após ser censurado por Natã, talvez Davi tivesse levantado a mão, em advertência, e dito:
“Espere um minuto, Natã. Você deve mostrar mais respeito e deferência a mim. Sim, você é um profeta; mas será um profeta não-canônico esquecido daqui a alguns séculos.
Eu serei um profeta canônico; cristãos daqui a três milênios estarão cantando meus salmos em suas igrejas. Meu Salmo 51 de arrependimento encorajará o coração de milhões de pessoas ao longo dos séculos. Mas daqui a 3000 anos ninguém saberá uma única palavra do que você escreveu no Livro de Natã!”
Talvez Davi tivesse até repreendido um pouco a Natã, num esforço de defender-se, acrescentando: “Tenha cuidado, Natã. Lembre-se, você não estava muito certo algum tempo atrás quando me deu sua aprovação profética para que eu construísse o templo.
Tem certeza de que está certo agora?”
E que dizer dos graus de autoridade? Bem, a história começa de maneira muito simples:
“O Senhor enviou Natã a Davi.” Natã tinha autoridade? Autoridade de quem? E quanta
autoridade? Essas simples palavras citadas em II Samuel 12:1 respondem a estas perguntas de maneira poderosa.
A esta altura é útil a experiência de Gade, o outro profeta literário mas não-canônico que ministrou a Davi.
Em I Crônicas 21 lemos que Satanás tentou Davi a pecar ao fazer o recenseamento de Israel. O general do rei, Joabe, protestou em vão. Israel foi recenseado (versos 1 a 6), e “tudo isto desagradou a Deus, pelo que feriu a Israel” (verso 7).
No verso seguinte, Davi está conversando diretamente com Deus. Ele confessa sua tolice e culpa e pede perdão. Mas no verso 9 Deus não Se dirige a Davi diretamente, como certamente poderia ter feito, pois os profetas têm um canal especial de comunicação com o Todo-Poderoso.
Não. “Falou, pois, o Senhor a Gade, o vidente de Davi.” Uma vez que Davi seria um profeta canônico, por que Deus não Se comunicou diretamente com ele? Por que escolheu, em vez disso, um profeta não-canônico?
Note, ainda, o que Deus disse a Gade: “Vai e dize a Davi: Assim diz o Senhor: ...” (verso 10). Certamente esta frase indica enfaticamente a autoridade da mensagem de Gade. Será que Gade precisava de qualquer outra autoridade senão um “Assim diz o Senhor”?
O que Deus disse a Gade que fizesse? Ele foi instruído a dizer a Davi que Deus agora estava oferecendo ao rei sua escolha de três punições: três anos de fome, três meses de destruição pelos inimigos, ou três dias de peste na terra (verso 12).
Deus também ordenou que Gade dissesse a Davi: “Vê, pois, agora, que resposta hei de dar ao que me enviou” (verso 12). Davi tinha o canal profético especial de comunicação; mas não devia usá-lo neste caso; ao contrário, devia se comunicar de volta com Deus por meio de Gade.
Novamente dizemos que não há evidências de que Davi reivindicasse inspiração superior à de Gade. Em vez disso, “subiu, pois, Davi, segundo a palavra de Gade, que falara em nome do Senhor” (verso 19).
É absurdo falar em graus de inspiração. Ou um profeta é inspirado, ou não é.
Recentemente estive presente a uma reunião em que havia um grande número de mulheres que estavam esperando dar filhos à luz num futuro próximo. Algumas estavam bem avançadas na gravidez; algumas estavam no princípio. Às vezes falamos de uma mulher no primeiro trimestre de gravidez como estando “ligeiramente grávida”. Mas a expressão não só é inexata, mas incorreta. Nunca se viu uma mulher que estivesse “ligeiramente grávida”. Ou ela está grávida, ou não!
Da mesma forma, nunca se viu um profeta que fosse “ligeiramente” inspirado. É igualmente absurdo falar de graus de autoridade. Em 2 de fevereiro de 1980, o respeitado estudioso adventista Don F. Neufeld 20 pregou um sermão na igreja adventista de Takoma Park, Maryland, intitulado “Quando Jesus Fala”. Para esta mensagem, que foi a última que ele pregou, 21 Neufeld escolheu como seu texto Apocalipse 19:10: “Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia”. Em sua mensagem ele discorreu sobre as várias possíveis traduções dessas frases que são familiares aos adventistas: “o testemunho de Jesus” e “o espírito de profecia”. E em sua conclusão ele demonstrou um ponto muito convincente:
“Através de Seu testemunho aos profetas do Novo Testamento, Jesus predisse que a atividade profética, como um dos muitos dons espirituais, continuaria na igreja. Em outras palavras, o testemunho de Jesus para Seu povo não devia cessar após os livros que compõem o cânon atual da Bíblia terem sido escritos. A atividade profética continuaria após o encerramento do cânon”.
“Isto nos leva a uma importante pergunta. Se em toda atividade profética é Jesus quem está falando, quer nos tempos do Velho Testamento, nos tempos do Novo Testamento, ou em tempos posteriores ao Novo Testamento, podemos com lógica fazer uma distinção e dizer que o que Jesus disse em um período é mais, ou menos, autoritativo do que o que Ele disse em qualquer outro período, pelo menos com referência às gerações envolvidas?
“Por exemplo, algo que Jesus disse no século I A.D. poderia ser mais, ou menos, autoritativo do que o que Ele disse no século XIX A.D.? A resposta, eu acho, é óbvia. Não faz sentido querer defender graus de inspiração, como se o que Jesus disse em uma geração seja mais inspirado do que o que Ele disse em outra.” 22
Os adventistas do sétimo dia afirmam que Ellen G. White é melhor compreendida no papel dos profetas literários mas não-canônicos da Bíblia. Como tal, seus escritos foram inspirados pelo Espírito Santo da mesma forma e no mesmo grau que os escritos que foram incorporados à Bíblia; contudo não fazemos deles uma segunda Bíblia, nem mesmo os consideramos como uma adição ao cânon sagrado da Escritura.
Referências:

1. Walter R. Martin, The Truth About Seventh-day Adventism (Grand Rapids, Mich.: Zondervan
Publishing House, 1960).
2. Norman F. Doughty, Another Look at Seventh-day Adventism (Grand Rapids, Mich.: Baker Book House, 1962).
3. Transcrição estenográfica da palestra “White Lies”, de Walter Rea, San Diego, Caliórnia: Association of Adventist Forums (14 de fevereiro de 1981), p. 9.
4. Ibid.Walter Rea se recusou a conceder permissão para citarmos suas palavras, ipsis literis, da transcrição. Suas observações, portanto, estão parafraseadas
5. John J. Robertson, The White Truth (Mountain View, Calif.: Pacific Press Pub. Assn., 1981).
6. Ibid., p. 79.
7. The Journal of Adventist Education, vol. 44, No. 1 (outubro-novembro de 1981), p. 18.
8. John Quincy Adams, sexto presidente dos Estados Unidos, e professor em tempo parcial de
retórica e oratória (1806-1809) em Harvard. De uma série de 37 palestras sobre teoria e prática da retórica, Lectures on Rhetoric and Oratory, recentemente republicadas (New York: Russell &
Russell, 1962), pp. 62-67.
9. Seventh-day Adventists Answer Questions on Doctrine (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1957), pp. 90, 91, citado daqui por diante como Questions on Doctrine.
10. I Crônicas 21:9; 29:29; II Crônicas 9:29; 29:25.
11. II Crônicas 9:29; I Reis 11:29; 14:7.
12. II Crônicas 12:15.
13. II Crônicas 9:29; 12:15; 13:22.
14. I Reis 16:1, 7; II Crônicas 19:2; 20:34.
15. II Crônicas 21:12.
16. Os esforços dos polêmicos modernos de dissociar os novos “graus de revelação” da desacreditada posição dos “graus de inspiração” nos traz instintivamente à memória a observação de Shakespeare: “O que há num nome? Aquilo que chamamos de rosa, se designada por qualquer outro nome, teria o mesmo perfume”. (Romeu & Julieta, Ato II, Cena 2, Linha 43).
17. Veja especialmente o artigo publicado em 15 de janeiro de 1884.
18. Carta 22, 1889; citada em Mensagens Escolhidas, livro 1, p. 23.
19. Uma tradição judaica diz que Natã e Gade escreveram I Samuel 25-31 e II Samuel. [Ver The Seventh-day Adventist Bible Commentary (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn.,1953), vol. 2, p. 447.] Contudo, a única fonte é uma tradição talmúdica, cuja exatidão e autenticidade é, na melhor das hipóteses, “problemática”, segundo o então diretor do Seminário Teológico Adventista da Universidade de Andrews, Gerhard F. Hasel, (entrevista, 6 de novembro de 1981). A possibilidade de a última parte de I Samuel e todo o livro de II Samuel incorporarem porções dos livros “perdidos” de Natã e Gade é apenas uma conjectura. Não se sabe se estes livros – e os escritos de outros profetas literários não-canônicos – chegaram a sobreviver até a época em que foi formado o cânon do Antigo Testamento (talvez 400 A.C.); portanto não sabemos se a exclusão deles foi uma decisão deliberada da parte do(s) compilador(es), ou se não houve escolha porque os livros já estavam perdidos na História.
20. Neufeld editou o Seventh-day Adventist Bible Student's Source Book e a Seventh-day Adventist Encyclopedia (vols. 9 e 10 da série do The Seventh-day Adventist Bible Commentary), e serviu como um dos editores gerais do The Seventh-day Adventist Bible Commentary. Ao tempo de sua morte ele era um dos editores associados da Adventist Review.
21. Carta de Maxine M. Neufeld, Loma Linda, Califórnia, s.d. (em resposta a minha carta de 19 de agosto de 1981).
22. Manuscrito de sermão, "When Jesus Speaks," (“Quando Jesus Fala”), p. 10; pregado na igreja adventista de Takoma Park em 2 de fevereiro de 1980. Grifos acrescentados.
Se você é leigo neste assunto e quer mais informações sobre a vida e o ministério de Ellen White, podem ser encontradas no site do Centro White do Brasil ou na comunidade Nisto Cremos no orkut: http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=76639657&tid=5281445147016442955&start=1
Não deixe de ver também este estudo sobre a Inspiranção dos profetas:
http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2009/frlic512009.html

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