sábado, fevereiro 22, 2014

“Médium” é um bom termo para se usar na tradução da Bíblia?

O educado professor Severino Celestino da Silva, apresentador do programa espírita “Abrindo a Bíblia” (Rede Mundo Maior), alega que a palavra “médium”, por ser mais recente, não se encontra na língua original do Antigo Testamento, o hebraico.
Por isso, segundo ele, as traduções bíblicas modernas que usam esse termo (e outros correlatos) estão equivocadas, são espúrias, e não merecem crédito. Teria essa alegação algum fundamento?
Fiz uma consulta à Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) sobre o assunto e tive o privilégio de mais uma vez contar com a resposta abalizada do Dr. Vilson Scholz, consultor de traduções da referida instituição. Interessante é que ele havia recebido uma pergunta sobre esse assunto e, gentilmente, cedeu-me a resposta para disponibilizá-la no blog.
Meu objetivo com isso é ajudar aos irmãos espíritas – incluindo o professor Celestino – a mudarem os próprios conceitos e a aceitarem a opinião de Deus sobre o espiritismo (Is 8:19, 20). Não pretendo (e Deus o sabe) ferir ninguém porque a consciência moral de cada um de nós é muito preciosa aos olhos de Deus. Todavia, a verdade precisa ser dita (2Tm 4:2), mesmo que a princípio cause algum desconforto. É a aceitação da verdade plena que liberta a nossa mente dos conceitos errados (Jo 8:32, 36) e, consequentemente, torna o nosso relacionamento com Deus muito mais significativo e prazeroso.
A seguir, transcrevo a resposta do Dr. Scholz, com a devida autorização (alguns grifos foram acrescidos por mim). Compartilhe-a com seus amigos espíritas e guarde em seus arquivos para fazer bom uso quando for questionado(a) sobre esse assunto.
Antes de prosseguir, informo que nos próximos dias disponibilizarei uma resposta completa às alegações do prof. Silva, em que ele defende o espiritismo “à luz da Bíblia”. Mais detalhes sobre isso você terá no próximo post.
Vamos ao estudo de hoje. 
Resposta da Sociedade Bíblica do Brasil
Outro dia, recebemos na Sociedade Bíblica do Brasil a seguinte pergunta, com uma explicação, no começo. Diz assim:

“Ouvi de um professor de hebraico de uma universidade da Paraíba (que por sinal ensina esta língua tanto para pastores quanto para judeus, mas é espírita), que a palavra “אוֹב” (ob) em hebraico, em Dt 18.11 (se não me falha a memória) foi mal traduzida, com objetivos ideológicos.

“Segundo esse professor, as traduções que colocam a citada palavra hebraica como “médium” estariam forçando o leitor a pensar que o espiritismo era condenado no tempo de Moisés quando, na verdade, as palavras “médium, espírita e espiritismo” foram criadas no século XVIII ou XIX pelo codificador do espiritismo. Ele ainda afirma que a melhor tradução teria de ser: ‘quem consulta os mortos (com finalidades vãs)”, o que não seria prática do espiritismo. Pergunta: É lícito e até mesmo válido traduzirmos uma palavra recente para uma antiga?”

Em resposta, pode-se dizer o seguinte: De fato, temos várias passagens na Nova Tradução na Linguagem de Hoje em que aparece a palavra “médium” ou “médiuns”. Só que não em Deuteronômio 18.11, onde temos “os que invocam os espíritos dos mortos”.

Isto mostra que a mesma palavra hebraica não é traduzida sempre do mesmo jeito para o português. A tradicional Almeida Revista e Atualizada tem a palavra “médium” apenas em 1Samuel 28 (a médium de En-dor, que foi consultada pelo rei Saul com a intenção de receber alguma orientação do finado Samuel) e em algumas passagens do livro de 2Reis. Nas outras, ela tem “necromante”.
Necromante é alguém que consulta os mortos. Isto é mais ou menos o mesmo que “médium”. Na antiga Almeida, a Revista e Corrigida, nunca aparece a palavra “médium”, muito menos “necromante”. Nessas passagens aparece, normalmente, “adivinho”. Só que adivinho é uma palavra bastante ampla, isto é, uma palavra muito genérica. Por isso, as traduções mais atualizadas ou mais recentes, como Almeida Revista e Atualizada e a Nova Tradução na Linguagem de Hoje, são melhores do que o texto antigo de Almeida.
Mas será que havia médiuns naquele tempo? Podemos usar esta palavra recente, que entrou na língua portuguesa apenas em 1880, para uma pessoa dos tempos bíblicos? Ora, a gente só não poderia fazer isto se a pessoa que ela designa tivesse surgido apenas em nossos dias. O mesmo vale para objetos e outros elementos de nosso tempo. Não temos na Bíblia, por exemplo, jogo de futebol (embora a palavra “bola” apareça uma vez, em Isaías 22.18). Também não temos helicópteros ou energia elétrica. Portanto, estes são termos que não poderíamos usar para coisas que aparecem na Bíblia. Agora, dá para usar o termo médium?
Creio que sim, porque aquelas pessoas dos tempos bíblicos, designadas pela palavra “ob”, tentavam entrar em contato com os mortos. Era gente que buscava um conhecimento secreto, não normal, através de consulta a mortos. Aquelas pessoas eram, de fato, médiuns. Não médiuns espíritas modernos, porque o espiritismo como existe hoje (kardecista e umbandista) ainda não tinha surgido naquele tempo, mas nem por isso eles eram menos do que médiuns. Com ou sem esse nome, era o que tentavam fazer.
Portanto, se alguém pergunta se a palavra médium aparece no original da Bíblia, a gente tem que responder que não. Isto porque o original da Bíblia, no caso o Antigo Testamento, está na língua hebraica. Lá aparece a palavra “ob”. Hoje em dia temos de usar um termo da nossa língua ou uma palavra que nós conhecemos. E usamos o termo médium, que vem do latim, da mesma palavra que nos deu “meio”. Médium é, portanto, alguém que quer “fazer o meio de campo” entre mortos e vivos.
Quando traduzimos, não temos escolha: temos que usar uma palavra de hoje que equivale ao que significa a palavra do original. E, de preferência, uma palavra que comunique, e que comunique com clareza. Se colocamos na tradução o termo médium, é porque esta palavra é a que usamos hoje para falar de pessoas que tentam receber mensagens dos espíritos dos mortos, pouco importando a finalidade que se tem em vista. E usamos esta palavra, quer gostem os espíritas, quer deixem de gostar. Em tempo: A Bíblia deixa bem claro que Deus não aprova essas tentativas de consultar mortos e fazer adivinhações.
Considerações finais do blog “Na Mira da Verdade”
Percebeu amigo(a) leitor(a) que, no processo de tradução de um texto antigo, é perfeitamente lícito usarmos termos atuais, desde que eles expressem a ideia e o conceito original contidos na Bíblia? Isso é um recurso comunicacional, que não deveria ser negado pelos amigos espíritas. Ainda mais por aqueles que estão familiarizados com as normas de tradução e de comunicação social.
“Médium” é um termo moderno, porém, ele é o equivalente do termo que se refere àqueles que pretendem “consultar os mortos”, em Deuteronômio 18:11. É mais que natural, no processo de tradução, os especialistas escolherem termos contemporâneos que expressem com clareza a ideia que a Bíblia quis transmitir. E, se o texto sagrado transmite que a mediunidade é abominável a Deus (Dt 18:12), independente da época, precisamos usar um termo atual que aproxime o homem pós-moderno daquilo que a Bíblia quer transmitir.
Desse modo, convido ao professor Severino Celestino da Silva que reveja os próprios conceitos e não justifique o injustificável: o espiritismo. Independente do termo empregado na Bíblia, a ideia é a mesma: Deus não aprova qualquer tipo de “comunicação” com os mortos.
Por isso, toda pessoa sincera, que aceita a Palavra de Deus como sua regra de fé (2Tm 3:16) e prática, não pode ser espírita e cristã ao mesmo tempo. Tentar harmonizar as duas coisas requer um malabarismo interpretativo desonesto, e coloca a pessoa numa posição perigosa da qual nos adverte Isaías 5:20:
“Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo!” (Nova Versão Internacional).
Com base naquilo que Deus diz em Sua Palavra sobre o espiritismo (Lv 19:31; 20:27; Dt 18:10-14; 2Rs 21:6; 1Co 10:13 14; Is 8:19, 20, etc.), recomendo, amigo(a) espírita, que aceite o cristianismo bíblico e a solução de Deus para a o problema chamado morte: a ressurreição (1Co 15:51-55; 1Ts 4:13-18), que nada tem a ver com reencarnação.
Aceite a Bíblia do jeito que ela é e leia-a com seus próprios olhos, contanto com a orientação espiritual do Espírito Santo, a Terceira Pessoa da Divindade (Jo 16:13, 14). O Espírito divino e não Allan Kardec deve ser o seu intérprete das Escrituras, pois, Ele é o autor delas (2Pe 1:19-21).
 [www.leandroquadros.com.br]

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, gostei do Blog, apesar de não ter lido muita coisa.Me interesso sobre esses assuntos da Bíblia embora não acredite de todo nela, principalmente o velho testamento.Não tenho religião mas acredito em Deus.