Parece que quanto mais o tempo passa, mais as pessoas se deixam levar pelos preconceitos, e não se abrem os olhos para a beleza da Revelação Divina.
Especialmente com relação às profecias de Daniel e Apocalipse, a cegueira no mundo cristão, de um modo geral, é alarmante! Fazem uma "salada hermenêutica", tentando provar teorias que a exegese sincera da Bíblia jamais confirmou.
Dentre os temas mais utilizados pelos opositores da mensagem Adventista está a profecia de Dan. 8:14, cuja interpretação é bastante peculiar da nossa denominação... graças a Deus!
Duas perguntas me foram feitas sobre o tema. Apesar de já ter postado muita coisa sobre o assunto (é só verificar na lista de assuntos ao final desta coluna à direita do blog), vou aqui responder, suscintamente, estas indagações.
1. Como provar que a IASD surgiu por profecia, se não há na Bíblia essa profecia que dê privilégio a sua organização?
Em primeiro lugar, a Biblia não tem realmente nenhuma profecia referente ao surgimento, explícito, da "organização" Adventista do 7º Dia. Isso é verdade!
Entretanto, é notória a confirmação de que a profecia de Dan. 8:14 se cumpriu em 1844 d.C., data que deu origem ao "embrião" missionário que culminou com a formalização da Igreja Adventista do 7º Dia, cerca de 20 anos mais tarde.
Vamos relembrar um pouco sobre o contexo da profecia a que me referi acima:
Daniel não entendeu o significado completo da visão que recebera, e isso trouxe um sentimento de enfraquecimento físico e mental sobre ele (cf. 8:27). O capítulo 9 inicia com uma oração do profeta para que o Senhor o ilumine sobre o significado do importante período de dominação do “chifre pequeno” (poder papal) sobre o povo de Deus. E o Senhor o orienta sobre isso.
O anjo Gabriel, o mesmo que anunciou a visão inicialmente (cf. 8:16), é agora enviado para explicar mais detalhadamente o desenvolvimento da visão dos 2300 anos para Daniel. Como um “selo” sobre a profecia, encontramos um período especial de tempo de 70 semanas (ou 490 anos) que seriam “determinadas” (ou “cortadas”, do heb. CHATHAK) sobre o povo de Israel. Estas 70 semanas marcariam o início dos 2300 anos, selando a visão e a profecia (9:24).
a) “desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém” (v. 25).
Houve 3 decretos principais de restauração sobre Jerusalém, que na época de Daniel estava em ruínas, devido às invasões babilônicas de 605 a.C., 597 a.C. e 586 a.C.:
1º decreto: de Ciro, em 537/538 a.C., que concede permissão para reconstruir o templo em Jerusalém (Esdras 1:1-3);
2º decreto: de Dario I Histaspes, em 519/520 a.C., que dá autorização para que se continue a reconstrução, porém com garantias financeiras (Esdras 6);
3º decreto: de Artaxerxes I Longímano, em 457 a.C., que liberta completamente o povo judeu da servidão à Pérsia, dando-lhes autoridade para reconstruir o Estado israelita (Esdras 7:1-13). Artaxerxes ainda promulgou um decreto extra, em 444 a.C. (cf. Neemias 1 e 2), apenas complementando o de 457 a.C.
Qual o decreto que deve ser utilizado para o início da profecia de Dn 8:14?
Apenas o 3º decreto, o de 457 a.C., concedeu a Jerusalém o seu renascimento legal, pois autorizou a indicação de magistrados e juízes e, em particular, restabeleceu as leis judaicas como base do governo local, restaurando Jerusalém como capital do reino. Também somente a partir desta data (457 a.C.) chegamos perfeitamente às datas mencionadas na profecia: batismo de Jesus, Sua morte expiatória, início da pregação aos gentios, etc.
O cálculo é simples:
2300 - 490 = 1.810
As "70 Semanas" se encerraram em 34 d.C., com a morte de Estêvão, o último "profeta" nos moldes do AT e o primeiro "mártir" cristão.
Portanto...
34 + 1.810 = 1.844 d.C. (data final da profecia)
A partir desta data, surgiu o "povo" que levantaria bem alto a proclamação das 3 mensagens angélicas de Apoc. 14, povo este que já havia sido mencionado no capítulo 10 do mesmo livro, profetizando a todo o mundo.
Mais detalhes sobre a profecia podem ser facilmente encontrados nos livros denominacionais, tendo sido, inclusive, objeto de estudo durante 3 meses de uma lição da Escola Sabatina recentemente "mastigada".
2. Como aceitar a interpretação adventista de Daniel 8:14, como dias proféticos, quando o profeta faz referência ao sacrificio continuo - noto aqui uma dificuldade para os adventistas para explicar sacrificio continuo.
Mais uma vez confirmo minha "teoria" de que os nossos opositores não se dão ao trabalho de estudarem a exegese bíblica a fundo e, muito menos, o que a Igreja Adventista rotineiramente escreve sobre o assunto. Em tempos de Internet, parece que muitos já se acostumaram ao surrado "CTRL+C CTRL+V", mas não páram para analisarem que muitas dessas informações divulgadas em sites pseudo-apologéticos são fragilíssimas em sua sustentação escriturística.
Vejamos...
“Depois, ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que falava: Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados? Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado” – Dn 8:13-14.
O Termo TAMID
O v. 11 declara que o chifre pequeno tiraria o “sacrifício diário” (Almeida Revista e Atualizada), ou o “contínuo sacrifício” (Almeida Revista e Corrigida). Porém, a palavra hebraica que aparece neste verso e nos seguintes, referindo-se a este “sacrifício” contínuo é TAMID. No original, não aparece a palavra “sacrifício”, como foi colocada em nossa tradução para o português.
Esta palavra (TAMID) aparece sempre no contexto do trabalho contínuo realizado no santuário de Israel (um símbolo da contínua mediação de Jesus como Sumo-Sacerdote do santuário celestial). Alguns versos nos quais aparece esta mesma palavra no hebraico são: Nm 4:7, 16: 28:10, 15, 23, 24, 31; 29:6, 11, 16; 29:19, 22, 25, 28, 31, 34, 38. Observe que TAMID sempre aparece no contexto dos serviços de intercessão e expiação contínua do santuário.
Um dos trabalhos do chifre pequeno seria adulterar o TAMID do santuário (v. 11). Ou seja, o chifre estaria disposto a criar um novo sistema de mediação, para ser colocado no lugar da mediação e intercessão que apenas Jesus pode realizar em nosso favor. Aos poucos, a igreja de Roma foi ofuscando a única e eficaz mediação de Jesus em nosso benefício no santuário celestial (1Tm 2:5; Hb 8:6), e em seu lugar colocou um novo sistema de mediação, no qual Maria e os “santos” ocupam o lugar que unicamente Jesus tem autoridade para fazê-lo.
Como vemos, o TAMID foi retirado, conforme profetizado em Daniel, e substituído por um outro sistema, segundo a “autoridade” arrogada por Roma. A verdade foi, paulatinamente, deitada por terra... pena que muitos ditos "evangélicos" não querem se dar conta disso!
“Até quando?”
No v. 13 é apresentada a preocupação com relação ao fim deste período de dominação e usurpação que seria característico do chifre pequeno. A ênfase é no “até quando”, ou seja, por quanto tempo duraria esta visão do contínuo e da rebelião? Surge, então, a misteriosa declaração: “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado” (v. 14).
O termo “purificado” é uma tradução da palavra hebraica TSADAQ. Ela, e suas variantes, têm outros significados que podem nos ajudar a entender melhor a visão. Vejamos como a palavra foi traduzida em outras versões bíblicas.
“Seria feita justiça” – Bíblia de Jerusalém
“Seria reconsagrado” – Nova Versão Internacional
“Será levado a uma condição correta” – Trad. Novo Mundo
“Será restabelecido em seus direitos” – Trad. Ecumênica
“Será limpo” – King James Version
Vê-se que não há uma palavra única, em português, apropriada para a tradução de TSADAQ.
Interessante notar ainda, que Daniel não utiliza o termo TAHER, que também significa “limpar”, “purificar” (Gn 7:2, 8; Lv 12:4, 5, 6; 15:28; Dt 14:11; etc.). TAHER tem um sentido de purificação legal, mas a ação do chifre pequeno afeta o santuário celeste, como vemos claramente nos estudos de Daniel, Hebreus e Apocalipse.
TSADAQ, por outro lado, tem o sentido de uma purificação mais ampla, e ocorre também em contextos judiciais. Assim, a obra não seria apenas “purificar” (TAHER), mas “vindicar” (TSADAQ) – Hb 9:23.
Ao final do período da visão, o Santuário e seu sistema de mediação contínua (TAMID) seria “justificado”, ou seja, após o período de supremacia do poder do chifre pequeno (Roma), o Santuário voltaria a ser conhecido e valorizado pelo povo de Deus, que havia recebido o ensinamento de um sistema de mediação adulterado (dogmas do papado), que tirou o papel único de Jesus como Mediador da raça humana. O TAMID do ministério sacerdotal de Cristo no Santuário celestial (cf. Hb 7:25; 1Jo 2:1) é a verdadeira adoração de Cristo na era evangélica.
Suprimir o TAMID significa a substituição feita pelo poder papal da união voluntária de todos os crentes em Cristo, por uma união obrigatória com uma igreja visível – a católica romana.
Para a pergunta inicial do v. 13 (até quando duraria a visão?) é apresentada uma resposta no v. 14: “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs”.
“Tardes e manhãs”
A expressão “tarde e manhã” é a tradução das palavras EREB BOQER, que aparecem no contexto da Criação em Gênesis, como representando um dia literal de 24 horas (Gn 1:5, 8, 13, 19, 23, 31). Isso mostra que a expressão “tarde e a manhã” de Dn 8:14 deve ser entendida como um dia, conforme aparece exemplificada em Gênesis. Não há como desmembrar a expressão para que dê 1150 dias, como sugerem alguns teólogos modernos.
Sabemos, então, que as 2300 tardes e manhãs representam 2300 dias inteiros, porém há mais um detalhe a se observar: o contexto da profecia sugere que ela se desenvolveria por um período de tempo bem extenso, além do tempo de Daniel, conforme os versos 17 a 26. Os 2300 dias literalmente representariam pouco mais de 6 anos, o que não daria a extensão descrita pelo ente celestial (“ao tempo do fim”). O contexto mostra que a profecia envolveria os reinos Medo-Persa (v. 20), Grécia (v. 21) e um reino que viria depois destes (vv. 22-25), historicamente tratando-se de Roma.
Portanto, os 2300 dias da profecia de Dn 8:14 não podem ser entendidos literalmente, mas sim como “dias proféticos”, que tinham o valor de 1 ano para cada 1 dia.
Há algum meio de comprovar este princípio “dia-ano” através da Bíblia? Vejamos...
a) Lv 25:8 – as sete semanas de ano, cada dia por um ano.
b) Nm 14:34 – os 40 dias, cada dia por um ano.
c) Ez 4:6-7 – os 40 dias de exílio, cada dia por um ano.
Fica evidente, após um estudo acurado e destituído de preconceitos, que todos os esforços para harmonizar o período da profecia de Dn 8:14 como sendo de 2300 dias, ou 1150 dias, com qualquer época histórica que se mencione nos livros de Macabeus e em Josefo, têm sido inúteis.
Parece impossível encontrar os acontecimentos separados por 2300 dias, que corresponderiam com a descrição de Daniel 8. A única forma em que se pode dar consistência a estas “tardes e manhãs” é computá-las mediante a aplicação bíblica do princípio dia-ano.
Aplicando-se tal princípio à profecia de Dn 8:14, vemos que os 2300 dias representam, na verdade, 2300 anos. Portanto, ao final deste período o Santuário seria vindicado em seu real propósito de ensinar a perfeita, eficaz e completa mediação de Jesus em nosso favor no Santuário celestial. Ao fim deste período, a mensagem de mediação sumo-sacerdotal de Jesus seria “restaurada”, e o santuário celestial seria “vindicado”, ou “justificado”, em relação ao falso sistema de mediação imposto pela igreja católica romana, através da mariolatria e dos “santos”.
Portanto, caro sr. Orlandinus, a Igreja Adventista do 7º Dia tem uma base sólida, bíblica e inquebrantável sobre sua origem profética... só não vê quem não quer.
"Aqui está a paciência dos santos; os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus" (Apoc. 14:12)
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