sábado, dezembro 17, 2011

Vinho na Bíblia

Se a Bíblia não se pode contradizer em seus ensinos, como iremos harmonizar declarações aparentemente contraditórias como estas: o uso da vinho é uma maldição, o uso do vinho é uma bênção. Essa aparente contradição escriturística levou os editores de O Novo Dicionário da Bíblia a afirmarem:
“Esses dois aspectos do vinho, seu emprego e seu abuso, seus benefícios e sua aceitação aos olhos de Deus e sua maldição estão entrelaçados na trama do Antigo Testamento de tal modo que o vinho pode alegrar o coração do homem (Sal. 104:15) ou pode fazer a mente errar (Isa. 28:7). O vinho pode ser associado ao regozijo (Ecl. 10:19) ou à ira (Isa. 5:11); pode ser usado para descobrir as vergonhas de Noé (Gên. 9:21) ou, nas mãos de Melquisedeque pode ser usado para honrar a Abraão (Gên. 14:18).”
Se estas duas possibilidades antagônicas provêm do vinho é fácil concluir que a Bíblia apresenta duas espécies distintas de vinho.
A primeira espécie seria o vinho não fermentado, o puro suco de uva que pode ser uma bênção.
A outra espécie é o vinho fermentado, intoxicante, causador de muitos problemas sociais como discórdia, miséria, destruição da vida, por isso vários escritores bíblicos o condenaram com veemência.
O que diz a Bíblia? O que dizem os exegetas e os comentaristas sobre este problema?
Vinho no Velho Testamento
Três vocábulos distintos são empregados no Antigo Testamento para designar três espécies de vinho.
  1. YayinGênesis. 9:21. É o mais usado, porque aparece nada menos de 140 vezes. Esta palavra é empregada indistintamente sem considerar se o vinho é fermentado ou não.
  2. O segundo vocábulo é Tirôsh, empregado 38 vezes. Ao contrário da palavra anterior, esta indica que o vinho não é fermentado! Algumas vezes é traduzido como vinho novo ou “mosto”. Deut. 12:17.
  3. Shekar é a terceira palavra usada. Tem a conotação negativa, normalmente é traduzida por bebida forte. Os escritores do Velho Testamento a empregam 23 vezes. Prov. 31:6 – “Dai bebida forte (shekar) aos que perecem, e vinho (shekar) aos amargurados de espírito.”
Seria interessante saber que na Septuaginta (tradução do hebraico para o grego, feita por setenta sábios judeus) a palavra “oinos” foi empregada para traduzir as hebraicas yayin e Tirôsh, mas nunca para shekar ou bebida forte.
  • Arão e seus filhos, os sacerdotes, foram estritamente proibidos de beber vinho ou bebida forte ao entrarem no tabernáculo para ministrar diante do Senhor (Lev. 10:9).
  • Os nazireus eram igualmente proibidos de unir vinho enquanto estivessem debaixo do voto (Núm. 6:3, 20; confira Juízes 13:4-7).
  • Os recabitas viveram um exemplo digno de nota de abstinência permanente do vinho, aderindo estritamente ao mandamento de seu ancestral, Jonadabe, para abster-se dele (Jer. 35:2, 5, 8, 14).
  • O livro de Provérbios está repleto de advertências contra indulgência com o vinho e bebida forte (veja capítulos 20:1; 21:17; 23:29-31, 31:4 etc.).
  • O vinho zomba daqueles que o usam (20:1), e os recompensa com ais, dores, lutas e feridas sem causa (23:29,30). ‘No seu fim morderá como uma serpente, e picará como um basilisco’ (v. 32).
  • O profeta Isaías declarou: ‘Ai dos que são heróis para beber vinho, e valentes para misturar bebida’ (Isa. 5:22).
  • Daniel e seus compatriotas deram um digno exemplo pela recusa de beber o vinho do rei (Dan. 1:5, 8, 10-16). Ao jejuar posteriormente, Daniel absteve-se de carne e vinho (cap. 10:3).
Não é possível terminar esta parte do comentário, sem enfatizar mais uma vez:
existem no Velho Testamento as mais variadas advertências dos grandes perigos advindos do uso do vinho e bebidas fortes.
Dentre estas advertências as que mais se agigantam são as apresentadas por Salomão no livro de Provérbios (20:1; 20, 21 e 30). - Seventh-day Adventist Bible Dictionary, pág, 1.150

Vinho no Novo Testamento
As referências ao vinho nesta segunda parte da Bíblia são mais escassas do que as encontradas no Velho Testamento.
Os escritores do Novo Testamento também empregaram três vocábulos gregos, que podem ser traduzidos para a nossa língua por vinho: oinos; sikera; gléukos.
Destas três a mais usada é oinos (aparece 36 vezes), tendo o mesmo sentido de Yayin no hebraico, e que na Septuaginta, como já vimos traduz também o hebraico Tirôsh. A palavra sikera aparece apenas uma vez em Luc. 1:15 –
“João Batista não bebia vinho (oinos) nem bebida forte (sikera).”
De modo idêntico o vocábulo gléukos só foi usado uma vez em Atos 2:13. Outros zombando diziam: “Estão cheios de mosto (gléukos).”
O principal problema no estudo do vinho é este: embora a língua grega seja especialista em empregar palavras distintas para idéias diferentes, ela não possui uma palavra para vinho com álcool e outra para vinho sem álcool.
O Novo Testamento emprega oinos tanto para o vinho fermentado como não fermentado.
O Vinho Usado por Jesus na Última Ceia
Podemos afirmar com certeza que o vinho usado por Jesus nesta ocasião não era fermentado. Esta afirmação é conclusiva da Bíblia pelo seguinte:
Na cerimônia da páscoa não devia haver fermento em nenhum compartimento da casa, desde que este é o símbolo do pecado. Se os pães asmos não continham fermento como o próprio nome indica, é fácil concluir que o vinho também não podia conter fermento.
A leitura das seguintes passagens nos levam a esta conclusão: Gên. 19:3; Êxodo 13:6-7; Lev. 23:5-8; Luc. 22:1.
Tanto o vinho da ceia como o das bodas em Caná da Galiléia não era fermentado, porque Jesus jamais aceitaria partilhar daquilo que é tão fortemente condenado na Bíblia.
Todas as igrejas cristãs tradicionais conservam o costume de usar o vinho sem fermento para simbolizar o sangue de Cristo, na Ceia do Senhor, oferecido por nós na cruz, para remissão de nossos pecados.
{Da apostila Explicação de Textos de Difícil Interpretação do Pastor Pedro Apolinário, In memorian
Fonte: Blog do Pr. Luis Gonçalves

Nenhum comentário: