Mais
um ano transcorreu e o mundo cristão comemora outro Natal. A propósito da
chegada desta, que é tida por milhões como a mais linda, significativa e
universal festividade do cristianismo, creio ser oportuno perguntar: Onde e
quando se originou a tradição de celebrar o Natal? Qual foi a origem da árvore
de Natal e do costume de trocar presentes? E ainda: Quem criou este curioso e
interessante personagem — O Papai Noel — velhinho barbudo, bonachão e
sorridente, tão querido de todos?
A grande maioria das pessoas
não se detém a pensar por que crêem o que crêem, e por que fazem o que fazem,
especialmente quando isto diz respeito à observância de costumes e tradições.
Por isso, muitos se
surpreendem, outros se sentem chocados, e alguns até mesmo ofendidos, ao
tomarem conhecimento da verdade ou dos fatos acerca do Natal.
O Natal é uma Festa de Origem
Pagã
Como instituição religiosa, o
Natal não tem fundamento na Bíblia, e sim no paganismo. Nem Jesus Cristo nem os
apóstolos instituíram o Natal. Como costume, ele veio do paganismo, e foi
introduzido na Igreja Católica por volta do século IV, baseando-se, portanto,
na autoridade dessa igreja e não da Palavra de Deus.
“O Natal não se celebrava nos
primeiros séculos da igreja cristã, já que o costume do cristianismo em geral
era de celebrar, não o nascimento, mas a morte das pessoas importantes (por
exemplo, a comunhão instituída por autoridade bíblica no Novo Testamento, é uma
comemoração da morte de Cristo).”1
Mas no século IV, esta festa
foi instituída em memória do nascimento de Cristo. Como não se sabia a data
exata do nascimento do Senhor, no século V a igreja ocidental ordenou que ela
fosse celebrada no mesmo dia da antiga festividade romana em honra do
nascimento do sol. Desta forma Roma tornou o Natal uma festa obrigatória e
oficialmente cristã.
Isto se deu quando o
cristianismo deixou de ser perseguido e alcançou igualdade com o paganismo,
mediante decreto de Constantino, primeiro imperador cristão. A igreja então
cresceu e se tornou popular, com as “conversões” em massa ocorridas.
Dentre os costumes que os
novos “conversos” trouxeram do paganismo, encontrava-se o da comemoração da
Brumália, sua principal festa, no dia 25 de dezembro, em memória do nascimento
do sol. Por amarem a Brumália, festa caracterizada por manifestações de
alegria, alvoroço e frivolidade indecorosa, os outrora pagãos, decidiram não
suprimi-la. Acomodaram-na ao título do nascimento do Filho de Deus, e
preservaram-na dissimulada sob um nome cristão. Séculos mais tarde, já com o
nome de Natal, esta festividade se estendeu ao protestantismo e ao resto do
mundo, chegando assim até nós.
Nasceu Jesus no Dia 25 de
Dezembro?
As evidências providas pelo
registro evangélico do acontecimento nos levam a crer que Ele tenha nascido
provavelmente num dia desconhecido do mês de setembro, e não no dia 25 de
dezembro, conforme pretende a tradição popular.
O relato de Lucas 2:8, nos
informa que quando os anjos anunciaram o nascimento de Jesus aos pastores,
estes, na vigília da noite, velavam e guardavam seus rebanhos. Isto não poderia
acontecer em dezembro, estação fria e chuvosa na Palestina. Era impossível que
os pastores nessa época do ano permanecessem nos campos. E à noite, essa
possibilidade era muito menor.
O mais tardar, até meados de
outubro, os pastores traziam seus rebanhos do campo e os prendiam. Adam Clark,
renomado comentarista bíblico, diz que era costume dos pastores trazer seus
rebanhos ao começarem as primeiras chuvas, isto é, entre outubro e novembro.
Uma vez que, segundo Lucas, os anjos, ao fazerem o anúncio do nascimento do
Filho de Deus, encontraram os pastores velando seus rebanhos na vigília da
noite, conclui-se que transcorria nesse momento o fim do verão ou o princípio
do outono, o que assenta em bases bastante sólidas a convicção de que nosso
Senhor tenha nascido provavelmente em setembro.
A Árvore de Natal
Declara Frederick J. Haskins,
em seu livro intitulado Answers To Questions, que “a árvore de Natal vem do
Egito, e sua origem é anterior à era natalícia”. Não deixa de ser um fato
surpreendente e estranhamente significativo, o de que a árvore de Natal tenha
sido concebida pelos egípcios, antes do nascimento de Cristo, e de que só em
tempos posteriores foi associada ao mesmo!
Quem é Papai Noel
Papai Noel, personagem mítico,
amado pelas crianças, é em sua origem, nada mais e nada menos que a contraparte
fictícia de uma figura que existiu na realidade: o bispo católico de Myra,
chamado São Nicolau.
A Enciclopédia Britânica diz:
”São Nicolau — bispo de Myra, santo venerado pelos gregos e pelos latinos no
dia 6 de dezembro… Diz uma lenda que ele presenteou secretamente dotes às três filhas
de um pobre cidadão… dando origem ao costume de obsequiar presentes em secreto
à véspera do dia de São Nicolau (dezembro 6), data que depois se transladou ao
dia de Natal (25). “2 Dali a associação do Natal e São Nicolau, ou seja, do
Natal e Papai Noel; portanto, Papai Noel é o mesmo São Nicolau, bispo católico
do século V.
Por Que Levaram Presentes a
Cristo?
Levaram os magos, presentes a
Jesus, por ser Seu aniversário? O estudo atencioso de Mateus 2:1-11, demonstra
que não. Vemos ali que os magos chegaram vários dias ou semanas depois do
nascimento do Filho de Deus. O verso 11 diz: ”entregaram-Lhe suas ofertas.”
Qual o significado desse ato de homenagem?
Era costume antigo no Oriente
levar presentes ao apresentar-se perante um rei. Os sábios do Oriente conheciam
as Escrituras do Antigo Testamento, e com base nisso, sabiam que o nascido
menino Jesus era o prometido “rei dos judeus”. Por isso levaram-Lhe presentes,
como fez a rainha de Sabá ao visitar Salomão, e como fazem hoje aqueles que
visitam chefes de Estado ou outras celebridades.
Oferenda ou Troca de Presentes?
Observe-se novamente que o
verso diz: “entregaram-Lhe suas ofertas e não que trocaram presentes com os
demais.
Conforme testemunho da
Biblioteca Sacra, páginas 153 a 155, era costume dos pagãos na festa da
Saturnália, intercambiar presentes entre amigos. Com o Natal, os cristãos
tomaram esse costume dos pagãos, de acordo com a admoestação de Tertuliano.
Trocar presentes no Natal! Que
há de cristão nessa prática? Honra a Jesus e Seu nascimento? Pensemos: Um amigo
aniversaria. Pessoas comemoram o acontecimento trocando presentes entre si,
esquecendo-se porém do aniversariante. Seria tal procedimento agradável e
honroso para ele? De modo algum, visto ser absurdo. Mas é exatamente isto que o
povo em todo o mundo, faz por ocasião do Natal. As pessoas dão presentes aos
seus amigos mas se esquecem do seu maior Amigo — Jesus.
Que faz o povo, especialmente
os abastados, nessa ocasião? Gastam milhões na satisfação do apetite, com
ornamentações desnecessárias e com ostentações de vaidade e extravagância. Em
muitos casos isto chega a ser pior do que lançar o dinheiro fora.
Ellen White sugere que se
deveria instalar árvores de Natal nas igrejas e oferecer ao povo a oportunidade
de nelas pendurar ofertas em favor dos necessitados e da obra missionária. Não
é esta uma excelente sugestão, e fácil de ser posta em prática?
O Significado do Natal
Em face dos esclarecimentos,
revelações, desmistificações, ou fatos e verdades precedentes, alguns poderiam
julgar oportuna a pergunta: Como Igreja Adventista do Sétimo Dia, temos razões
ou justificativas para comemorar o Natal, sendo esta uma festividade de fundo
pagão e que honra a autoridade de Roma? Não seria melhor se abolíssemos de
nosso meio as programações natalinas?
Tendo em mente o verdadeiro
significado do Natal, penso que como igreja fazemos bem em observá-lo. Afinal,
o nascimento de Cristo não foi um fato, uma realidade? E esse fato não é até
agora o maior e mais sublime acontecimento da História? Não encerra ele a mais
doce e mais preciosa mensagem de amor e esperança para cada ser humano? Não
constitui o mais poderoso e comovente apelo ao coração humano, ao falar
eloqüentemente do amor que veio para salvar, enobrecer e glorificar Suas pobres
criaturas caídas em pecado? Então, por que não relembrar o nascimento de
Cristo? Ao fazê-lo, expressamos como igreja, nosso gesto de simpatia e
sociabilidade humana e cristã, ao mesmo tempo em que demonstramos equilíbrio e
senso de oportunidade referente àquilo que promove o bem.
Reconhecemos, não obstante,
que a sociedade professamente cristã de todo o mundo, no espírito e na prática
desvirtuou o Natal, secularizou-o, materializou-o, adulterou seu significado,
crendo e fazendo crer que o Natal seja meramente sinos repicando, luzes, cores,
músicas alusivas ao evento, lindas árvores, Papai Noel, presentes, vendas altas
e negócios lucrativos (onde o chamado “espírito do Natal” se’impõe não para
honrar a Cristo, mas para vender mercadorias), e reunião ou reencontro de
amigos e familiares, num clima emocional de cordialidade, boa vontade, sorrisos
e acolhimento mútuo, e freqüentemente de conversações descontraídas e de
gracejos vulgares, e até mesmo irreverentes e obscenos, onde não faltam os
excessos e as extravagâncias no comer e no beber.
Em tudo isso, em todas essas
coisas, não se fala nem se medita na pessoa de Jesus. Não se cogita acerca do
propósito para o qual Ele nasceu. Não se procura captar o fato maravilhoso de
que Ele veio para revelar o amor, a boa vontade e os pensamentos de paz do Pai,
para com Seus pródigos e caídos filhos.
O cântico dos anjos na
anunciação aos pastores foi: “Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa
vontade para com os homens”; no entanto, que contraste a realidade que o mundo
apresenta hoje! Os homens de boa vontade se tornam cada vez mais raros, a paz
se encontra a cada dia mais distante, e os homens buscam sua própria glória, em
vez da de Deus.
Corações não se admiram do
amor sacrifical do Pai, ao entregar Seu único filho para salvar inimigos; espíritos
não se assombram ao considerar as profundezas a que Cristo desceu, renunciando
à alteza, à glória e à majestade, para tornar-Se homem, a fim de redimir o que
se perdera; e muitos não se sensibilizam com a simplicidade, a pobreza, a
abnegação e a humildade manifestas pelo Filho de Deus e Filho do homem.
Tudo isso deixa claro que o
Natal só tem sentido quando, de maneira individual, cada um faz do seu coração
uma manjedoura para o Salvador, de tal forma que, como Lutero, possa chegar a
dizer: “Tu, Senhor, és minha justiça, e eu sou o Teu pecado; tomaste o que era
meu, e me deste o que era Teu. O que não foste Te tornaste, para que eu fosse o
que não era.” Este é o verdadeiro significado do Natal. Busquemo-lo em nossa
experiência.
Referências
1. Enciclopédia Americana de
1948.
2. Enciclopédia Britânica,
vol. 19, págs. 648 e 649.
3. O Lar Adventista, págs. 481
e 482.
Texto de autoria do Pr. Deilson Storch de Almeida,
publicado na Revista Adventista de Dezembro/1984.
Bíblia e Ciência
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