Numa das edições de fevereiro, a Veja trouxe uma matéria[1] retratando cantores religiosos, tanto católicos quanto evangélicos, que vem se consagrando junto ao grande público. O padre-galã Fábio de Melo (o artista que mais vendeu no ano de 2008 no mercado nacional, atingindo a marca de 600 mil cópias vendidas de seu CD “Vida”), Soraya (grande vencedora do Grammy Latino), Regis Danese, as bandas Eterna (católica) e Oficina G3 (evangélica), além das pop-stars Aline Barros e Fernanda Brum, entre outras.
O sucesso de cantores religiosos tem desbancado muitos de seus equivalentes seculares. Músicas evangélicas se incorporaram às trilhas sonoras de novelas (!) e a aparição destes artistas em programas de televisão tem causado algum auê. Se este sucesso fonográfico leva os religiosos à conclusão de que estão divulgando suas convicções de forma eficaz, até estudiosos se perguntam sobre a coerência em misturar fé e música popular. “Um padre com a imagem sexualizada é algo espantoso. O que virá seguir?”, alarma-se Samuel Araújo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro[2].
A bem da verdade, enquanto cristãos não desenvolverem uma estética musical adequada ao que creem, estarão colocando água limpa em um copo sujo – metáfora que uso para transmitir o conceito da contaminação da mensagem cristã através de um meio inapropriado.
Apesar da formação de muitos músicos cristãos passar pelo estudo da música popular e mesmo a despeito das influências de evangélicos estrangeiros (sobretudo norteamericanos), uma filosofia bíblica do louvor tem de ser formulada. Ou então, os não-cristão comprarão nossos CDs cada vez mais, não por estarem aceitando nossa mensagem, mas porque nós a teremos rejeitado há muito tempo. A fé que está ganhando as paradas está migrando, deixando de ser fé em Deus, para ser fé nas paradas, crença no sucesso como um fim em si mesmo, forte o suficiente para justificar toda a incoerência cometida em nome de Deus.
[1] Marcelo Marthe e Sérgio Martins, “Cantar com fé”, Veja, ed. 2098, ano 42, nº 5, 4 de Fevereiro de 2009, seção “Artes & Espetáculos”, pp. 120-125.
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