
Dissidência da Igreja Universal do Reino de Deus, a Mundial é a menos organizada das evangélicas. Seus templos têm instalações precárias. A pregação é classificada por alguns como “primitiva”. Há gritos, choros e performances espalhafatosas. Até suas publicações são visivelmente mais pobres que as das concorrentes. Apesar de fazer quase tudo no improviso, a Mundial já é considerada o maior fenômeno religioso do Brasil desde a criação da Igreja Universal, em 1977, sob a liderança do bispo Edir Macedo. Mais que isso, a Mundial começa a se firmar como ameaça ao império que a Universal ergueu no campo das neopentecostais.
Carismático, intuitivo, meio desafiador, meio fanfarrão, Valdemiro comanda uma estrutura que, de acordo com números da igreja, reúne 2.350 templos, cerca de 4.500 pastores e tem sedes em mais 12 países. Só em aluguéis de imóveis para cultos a Mundial gasta R$ 12 milhões por mês, segundo estima o diretor de compras da igreja, Mateus Oliveira, sobrinho de Valdemiro. Em número de templos, a Mundial superou duas de suas três concorrentes neopentecostais: a Internacional da Graça, do missionário R.R. Soares, e a Renascer, do casal Estevam e Sônia Hernandes. Nos últimos dois anos, a Mundial praticamente multiplicou por dez seu tamanho (em 2008, eram 250 templos). Mantido o atual ritmo de crescimento, ela ultrapassaria a Universal até 2012. A igreja de Edir Macedo afirma ter 5.200 templos e 10 mil pastores.
Uma característica nova na expansão da Mundial está naquilo que o sociólogo Ricardo Mariano, estudioso de religião na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, chama de “pescar no próprio aquário evangélico”. Estudos sugerem que a maior parte dos seguidores da Mundial veio de outras neopentecostais, principalmente da Universal. Poucos eram do meio católico, tradicional fornecedor de fiéis para denominações evangélicas. “Calculo que mais de 50% dos membros da Mundial saíram da Universal, uns 30% da Internacional da Graça e o resto das demais evangélicas ou outras religiões”, diz Paulo Romeiro, professor de teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e autor de um livro sobre a igreja.
Na cúpula da Mundial, a presença de ex-membros da Universal é expressiva. Estima-se que 90% dos bispos e até 80% dos pastores tenham sido formados por Edir Macedo. O próprio Valdemiro tem origem na Universal, onde atuou por 18 anos. O apetite com que a Mundial avança sobre a Universal aparece até na distribuição geográfica dos templos. Valdemiro tem predileção por instalar igrejas em imóveis que já foram ocupados pela Universal.
Além dos “livramentos”, a Mundial ostenta ainda outras três distinções em relação às concorrentes. A principal é a ênfase na cura. Diferentemente da Universal, que cresceu preconizando o exorcismo, ou da Renascer, que concentra o foco na prosperidade, a Mundial promete soluções divinas para doenças terrenas.
Outra característica que distingue a Mundial é a sacralização do suor. A cada culto, Valdemiro passa quase três horas no altar. Ali, ele grita, canta, ri, chora, pula, se ajoelha e sua. Sobretudo sua. Quando a reunião termina, seu suor é disputado pelos fiéis.
O terceiro elemento distintivo da Mundial é a composição de uma cúpula majoritariamente negra. Os bispos Josivaldo Batista, o segundo na hierarquia, e Roberto Damásio, o terceiro, também são negros.
Como outras igrejas neopentecostais, a Mundial também não se acanha em pedir ofertas. Apesar do perfil pobre do público, os pregadores não hesitam em estabelecer valores altos para as contribuições. Valdemiro já pediu até 30% da renda do fiel, o que foi batizado de “trízimo” : “Você vai dizer para Deus o seguinte: ‘Senhor, 70% de tudo o que o Senhor me der neste mês é meu. E 30% são da sua obra’”, disse. Depois, associou o “30” à “Santíssima Trindade”.
A nova ambição de Valdemiro é política. Seguindo a tendência de outras igrejas, ele quer criar sua própria bancada em Brasília e eleger um representante seu em cada Assembleia Legislativa do país.
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