sábado, maio 26, 2012

Qual a obra de um pastor Adventista?


Devido à grande quantidade de perguntas que alguns leitores do blog fazem sobre temas relacionados ao trabalho de um pastor na Igreja Adventista do 7º Dia, estou voltando a este tema, com o objetivo de ajudar a ampliar o conhecimento acerca deste importante assunto. E antes que os desinformados (rsrs) comecem a atirar suas pedras da ignorância, quero lembrá-los que NÃO SOU OBREIRO da Igreja Adventista do 7º Dia, e não recebo um "tostão" de qualquer de suas instituições...


Um dos maiores “clamores” ouvidos entre os Adventistas de nossa região (Nordeste, por exemplo) é a "falta" de pastores. Muitos irmãos insistem de que deveríamos seguir o modelo de outras denominações, nas quais os pastores administram apenas uma congregação (chamado de sistema congregacionalista), diferentemente do pastor Adventista que, muitas vezes, lida com mais de uma dezena de igrejas e grupos.

Esses irmãos sinceros observam que o pastor não realiza visitas, eventos, programas, etc., suficientes para “satisfazer” as expectativas dos membros do distrito. Para estas pessoas, o papel principal do pastor é pregar, visitar e resolver os assuntos administrativos da igreja local. 

Por isso, o modelo pastoral de outras denominações torna-se tão atraente, uma vez que lá o pastor fica dedicado quase que “exclusivamente” ao atendimento de uma congregação apenas.

Mas... 

Qual o modelo bíblico de um pastorado, conforme visto no Novo Testamento? 
Que modelo de administração os apóstolos seguiram, o qual produziu um rápido impulso à pregação do Evangelho no primeiro século? 
Deveríamos adotar o sistema das grandes igrejas da atualidade, com um pastor exclusivo para cada congregação?

Vejamos o que nos revelam alguns textos bíblicos sobre este assunto...

A Obra Pastoral na Igreja Primitiva

1. Consagração ao ministério da pregação da Palavra de DeusOra, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária. Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra” - Atos 6:1-4.

Vemos aqui o início da divisão de tarefas na administração da Igreja, quando os apóstolos já observavam que o rápido crescimento da Igreja estava gerando empecilhos de cunho administrativo, que impediam que eles pudessem se dedicar integralmente à sua principal tarefa – pregar o Evangelho.
Alguns homens de destaque foram escolhidos para auxiliarem diretamente à Igreja nas tarefas referentes aos serviços "cotidianos". Instituiu-se,então, a função de “diácono” (do grego, "aquele que serve", "que ajuda", "qua auxilia"), que deveria responsabilizar-se pelo atendimento assistencial dos membros, deixando os apóstolos livres para expandirem a Mensagem.
Desde cedo, a liderança da Igreja percebeu que em cada congregação local devem existir pessoas com capacidade de liderança e serviço, que possam auxiliar os líderes "maiores" nos assuntos de caráter mais comum, porém de grande importância - por isso foram escolhidos para diáconos, os melhores.

2. Assumir fielmente o trabalho do Evangelismo
Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um
Evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério” - 2Timóteo 4:5.

Esta certamente é uma importante tarefa que o pastor deve desempenhar, pois o evangelismo é a "espinha dorsal" da Igreja Adventista, sua própria (e talvez única) razão de existir. O pastor não deve apenas “fazer” evangelismo, mas deve despertar em outros o amor pelo evangelismo em suas diversas formas e métodos (público, pessoal, em PGs, em Classes Bíblicas, na distribuição de folhetos, no ministério da oração intercessória, no evangelismo infantil, carcerário, hospitalar, etc.), para que cada vez mais membros estejam envolvidos na sagrada missão de anunciar o Evangelho Eterno.

3. Pregar, animar, fortalecer e eleger líderes locais
Sobrevieram, porém, judeus de Antioquia e Icônio e, instigando as multidões e apedrejando a Paulo, arrastaram-no para fora da cidade, dando-o por morto. Rodeando-o, porém, os discípulos, levantou-se e entrou na cidade. No dia seguinte, partiu, com Barnabé, para Derbe. E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, e Icônio, e Antioquia, fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de
Deus. E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns,
os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido.” - Atos 14:19-23.

Paulo realmente foi um grande exemplo de abnegação, desprendimento, zelo e amor pelas almas que perecem na ignorância sobre Deus. Este valoroso apóstolo não mediu esforços para ver a pregação do Evangelho sempre avançar, muitas vezes com o preço do seu próprio suor e sangue.
É importante observar que Paulo passava por determinada cidade, pregava o Evangelho, ficava o tempo necessário para fazer conversos e prepará-los como discípulos e líderes iniciantes, e então seguia viagem... Algum tempo depois ele retornava (quando lhe era possível), reunia os irmãos, animava-os, treinava-os e deixava a Igreja sob a responsabilidade de líderes locais (Presbíteros, Diáconos, Bispos e/ou Anciãos)... e novamente seguia viagem. 
Não vemos Paulo preocupado em se estabelecer em determinada cidade definitivamente, apenas pela necessidade de “fortalecer” a Igreja. Quando ele via que os irmãos já podiam tomar conta de si mesmos, então era hora de partir para uma nova missão. 
Enquanto houvessem gentios necessitando ouvir a mensagem de salvação, não havia momento para descanso ou conveniências.
Este é exatamente o papel que o pastor deve desempenhar em nossos dias. Seu principal dever écapacitar os membros para o serviço, e então prosseguir a expansão da Obra em novos lugares. Não há tempo a perder, pois centenas de milhares perecem diariamente sem o conhecimento da verdadeira fé que salva do pecado. A escolha, capacitação e motivação de líderes locais deve ser o ponto focal do trabalho do pastor, deixando sobre esta valorosa e capacitada liderança a tarefa de cuidar do rebanho, enquanto o pastor continua em busca de novas “ovelhas”. Quando houver real necessidade, é óbvio que o pastor distrital também deve empenhar-se na visitação, primeiramente aos líderes, e em seguida àqueles irmãos que não puderam ser atendidos satisfatoriamente pela visitação da liderança formada por seus próprios “pastores locais” (Anciãos, Diáconos, Professores da Escola Sabatina, Líderes de PG, etc.).

4. Os pastores devem contar com uma Liderança Eclesiástica
Tendo eles chegado a Jerusalém, foram bem recebidos pela igreja, pelos apóstolos e pelos presbíteros e relataram tudo o que Deus fizera com eles. Insurgiram-se, entretanto, alguns da seita dos fariseus que haviam crido, dizendo: É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés. Então, se reuniram os apóstolos e os presbíteros para examinar a questão” - Atos 15:4-6.

Para auxiliar o trabalho dos pastores, cada igreja deve contar com líderes locais capacitados, que tenham condições de desempenhar funções de orientações, aconselhamento, doutrinamento, etc, visando uma uniformização do conhecimento doutrinário, para que não existam interpretações equivocadas das Escrituras, e seja mantido o clima de unidade e relacionamento sadio entre os membros.

5. Realizam-se treinamentos regionais com a Liderança das IgrejasDe Mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíteros da igreja. E, quando se encontraram
com ele, disse-lhes: Vós bem sabeis como foi que me conduzi entre vós em todo o
tempo, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia...” - Atos 20:17-18.

Um detalhe que me chama a atenção neste relato de Atos 20 é a tremenda distância entre as 2 cidades, e bem sabemos que naquela época não existiam as facilidades de locomoção que temos hoje (carro, moto, ônibus, trem, avião, etc.), mas o amor pela salvação de almas ardia no coração daqueles homens e mulheres, por isso eles não se incomodavam em caminhar vários dias para aprenderem como melhor trabalharem para o Mestre... Que exemplo para nós, hoje!

Mileto e Éfeso distavam cerca de 100 Km uma da outra, mas isso não impediu Paulo de convocar os líderes para uma reunião de orientações e treinamento. Esse é o papel do pastor... Ele deve utilizar esses momentos de encontros regionais para animar, motivar, treinar, equipar e desafiar seus líderes locais para o exercício do trabalho de pregação em cada igreja. O pastor não pode se preocupar com uma congregação apenas, pois para isso Deus orientou a escolha de Anciãos, Presbíteros, Diáconos, Bispos, etc. 
O pastor trabalha de perto com o grupo de líderes, para que estes possam trabalhar cada um com sua respectiva equipe em cada igreja. Esse foi o modelo do deserto, com Moisés, e era esse o modelo do Novo Testamento, que fez com que a Igreja crescesse tanto.
Por que deveríamos nos afastar dele agora?!

6. Uma tarefa especial é a escolha da Liderança local
Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes,
bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi”- Tito 1:5.

Mais uma confirmação bíblica de que o pastor deve preocupar-se com a escolha de consagrados líderes locais capacitados, para poderem “tocar o barco” enquanto ele está envolvido na pregação do Evangelho em novos lugares.

7. Os líderes locais têm um ministério especial a desempenhar
Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes
façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor” - Tiago 5:14.

Não é apenas do pastor a tarefa de visitar, aconselhar, orar pelos enfermos, etc. Cabe também à liderança local a iniciativa de estar atenta às necessidades dos membros sob sua responsabilidade, e buscarem apoio do pastor apenas para os casos que estiverem fora de seu alcance, ou seja, aqueles considerados “mais graves” (cf. Êxodo 18:21-22), para que o pastor possa dedicar-se à sua tarefa principal - treinamento e evangelismo.

8. O pastor tem como principal meta o crescimento da Igreja de DeusE ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo...” - Efés. 4:11-14.

Juntamente com outras funções de liderança da Igreja de Deus, o pastor deve ter como objetivo nº 1 a edificação do corpo de Cristo, fazendo com que cada crente seja "aperfeiçoado" (treinado) para a obra de pregação do Evangelho.

A Obra Pastoral, Segundo o ESPÍRITO DE PROFECIA
Que o ministro dedique mais do seu tempo a educar do que a pregar. Que ele ensine ao povo como dar aos outros o conhecimento que receberam” – Test. para a Igreja, vol. 7, pág. 20.

Deus não deu aos Seus ministros o trabalho de endireitarem as igrejas. Logo que esse trabalho parece estar feito, tem de ser recomeçado de novo. Os membros de igreja que são assim cuidados e vigiados tornam-se seres religiosos débeis. Se noventa por cento do esforço que tem sido feito em favor dos que sabem a verdade fossem feitos em favor dos que nunca ouviram a verdade, quão maior teria sido o avanço realizado!” – Test.para a Igreja, vol. 7, pág. 18.

Esquecendo que a força para resistir ao mal se alcança melhor através de um serviço agressivo, eles começaram a pensar que não tinham trabalho mais importante do que proteger a igreja de Jerusalém dos ataques do inimigo... Para espalhar os Seus representantes pelo mundo, onde pudessem trabalhar por outros, Deus permitiu que a perseguição viesse sobre eles. Expulsos de Jerusalém, os crentes iam por toda a parte pregando a Palavra” – Atos dos Apóstolos, pág. 105.

A maior ajuda que pode ser dada ao nosso povo é ensiná-los a trabalhar para Deus e a dependerem dEle, não dos pastores” – Test. para a Igreja, vol. 7, pág. 19.

Se os membros da Igreja não fizerem qualquer esforço para darem a outros a ajuda que lhes foi dada, grande debilidade espiritual será forçosamente o resultado” – Idem.
Vemos que nós recebemos uma indicação direta de Deus sobre o trabalho que o pastor deve desempenhar diante da Igreja – treinar os membros e motivá-los para o trabalho

Como poderíamos ficar alheios às claras orientações do Senhor a este respeito?

Leia 2Crôn. 20:20.
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ConclusãoPodemos ver claramente que a obra principal do pastor não deve ser EXCLUSIVAMENTE o atendimento às necessidades de uma igreja local apenas, mas a capacitação edesenvolvimento de uma liderança que seja apta a atender à congregação, enquanto o pastor fica livre para pregar em novos lugares, confirmar os já convertidos e treinar novos líderes. Este foi o modelo do Novo Testamento, e também é o modelo da Igreja Adventista do 7° Dia, pois foi aquele orientado diretamente pelo Espírito de Deus - para quê um melhor "estrategista" do que Este?
É interessante, ainda, observar que as regiões do mundo que mais crescem em número de novos conversos ao Evangelho são, exatamente, aquelas onde tem menos pastores para cuidarem de vários membros (América do Sul e partes da África, por exemplo). Em algumas regiões onde o número de pastores é bem maior (onde um pastor cuida de apenas 100 membros, em média) o Evangelho está praticamente estagnado, do ponto de vista de crescimento da membresia.
Portanto, na IASD, conforme orientação da Bíblia e do Espírito de Profecia, o pastor assume a função mais próxima à do “apóstolo”, que é o responsável por capacitar a liderança para que esta desenvolva os dons necessários para o cuidado do rebanho, enquanto que o pastor/apóstolo difunde o Evangelho em lugares novos.
Os Anciãos locais é quem têm um grande privilégio (e também uma pesada responsabilidade) de assumir boa parte da função "pastoral" de cuidar do rebanho sob sua responsabilidade, recebendo para isso a supervisão, o treinamento e o apoio do pastor/apóstolo distrital. 

É claro que o pastor pode, E DEVE, realizar visitas, aconselhamentos, programas, etc., mas este não é seu trabalho principal, conforme pudemos ver nos textos inspirados.


Gilson Medeiros

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