Segundo a Palavra de Deus, não devemos nos conformar com o mundo (Rm 12.1-2), isto é, com as suas crenças, doutrinas, tendências, atitudes e filosofias, como: o hedonismo, o materialismo, o imediatismo, o ateísmo, o antropocentrismo, o machismo, o feminismo, o homossexualismo, etc. Neste artigo, discorreremos sobre os perigos do egocentrismo, do individualismo e, principalmente, do triunfalismo, os quais vêm fascinando cristãos desavisados.
Egocentrismo, à luz da psicologia, diz respeito ao conjunto de atitudes ou comportamentos de um indivíduo que se refere essencialmente a si mesmo. Essa tendência é contrária à Palavra de Deus, que condena a soberba, o orgulho, o egoísmo e o egotismo. Todos esses termos, com significações específicas, se inter-relacionam, designando o culto ao “eu”.
Quanto ao individualismo, trata-se da doutrina moral, econômica ou política que valoriza a autonomia individual, em detrimento da hegemonia da coletividade despersonalizada, na busca da liberdade e satisfação das inclinações naturais (Houaiss). É a tendência e a atitude de quem revela pouca ou nenhuma solidariedade e busca viver exclusivamente para si; também está associado à egolatria.
Foi o Diabo o primeiro a cultuar o “eu”, tentando, inclusive, igualar-se a Deus (Is 14.12-15 e Ez 28.15-17). Por isso, como o mundo jaz no Maligno (1Jo 5.19), as suas filosofias predominantes são o egotismo e o narcisismo — se bem que este último diz respeito principalmente ao estágio precoce do desenvolvimento psicossexual no qual o indivíduo tem a si mesmo como objeto sexual —, ambas condenadas pela Palavra de Deus (Lc 12.17-21; Gl 2.20; Jo 3.30; Sl 138.6; Ec 2.4-11; Lc 18.9-14 e 1Pd 5.5).
O termo “triunfalismo” diz respeito à atitude excessivamente triunfante; ao sentimento exagerado de triunfo. É a mais perigosa dentre as influências filosóficas em análise, posto que os falsos mestres a propagam encobertamente entre nós (2Pd 2.1 e At 20.30). E, como num círculo vicioso, os crentes desavisados, ávidos por ouvir palavras que agradem os seus ouvidos (2Tm 4.3), abraçam os mencionados egocentrismo e individualismo, bem como todo o tipo de influência egotista.
Muitos cultos, em nossos dias, são reuniões para “massagear” egos, tendo como objetivo adular, elogiar e melhorar a auto-estima dos crentes. A tendência é que esses irmãos se esqueçam de que são “vasos de barro” (2Co 4.7) e deixem de se humilhar debaixo da potente mão de Deus (1Pd 5.6), passando a ver tudo sob a ótica do triunfalismo. Isso é perigoso, pois a própria Bíblia assevera que no mundo temos aflições (Jo 16.33; At 14.22; Rm 5.1-6 e 2Co 4.16-17).
Quando um crente é estimulado a só pensar em bênçãos, torna-se cada vez mais egocêntrico e individualista. Ele não freqüenta as reuniões da igreja a fim de cultuar a Deus, e sim para satisfazer as suas necessidades. A sua fé é direcionada apenas à consecução de vitória, ignorando que os heróis da fé fecharam as bocas dos leões e escaparam da espada (Hb 11.33-34), mas também, pela mesma fé, foram maltratados, torturados, apedrejados, serrados e desamparados (Hb 11.25,35-38).
Segundo a teologia do triunfo, o crente deve “decretar”, “determinar”, “profetizar” bênçãos materiais e espirituais — nessa ordem — para a sua vida, além de exigir a saúde física como um direito. Tudo gira em torno da fé, vista como a mais importante virtude da vida cristã. Mas isso não é a fé saudável, bíblica, e sim a egolátrica fé na fé. Conquanto precisemos de fé para agradar a Deus (Hb 11.6) e sejamos vencedores, em Cristo (Rm 8.37 e 1Co 15.57), essa virtude sem as obras é morta (Tg 2.17,24,26; 2Pd 1.5-9; Ef 2.8-10 e 1Co 13.2,13).
Além de supervalorizar a fé, os triunfalistas apegam-se à maldição hereditária, à cura interior — isto é, à falsa cura interior —, à priorização da vitória financeira, a exageros no campo da batalha espiritual e à pretensa saúde perfeita. Para eles, o cristão só adoece se estiver em pecado ou dominado pelo Diabo. Ignoram que nem todas as doenças provêm do Maligno (Jo 9.3; 11.4; Sl 90.10; 2Co 4.16; 1Pd 1.24 e 1Co 15.54). Embora Jesus tenha poder para nos curar, segundo a sua vontade (1Jo 5.14; Mt 6.9,10 e 26.42), ainda estamos sujeitos às enfermidades (2Rs 13.14; 1Tm 5.23; 2Tm 4.20 e Sl 41.3).
Outro desvio triunfalista é a menção constante ao Diabo e seus agentes. Cantores e expoentes bradam: “Vou cantar para Satanás ouvir” ou “Vou gritar para sacudir o Inferno”. Certo pregador afirmou que a sua missão resume-se em “chutar a cara do capeta por onde passa”. Ou seja, como todas as coisas negativas seriam, supostamente, determinadas por Satanás, temos de dirigir-lhe palavras de ordem. Entretanto, devemos cantar para louvar a Deus; e pregar para “abalar” o coração dos pecadores!
De acordo com Tiago 1.14, quando pecamos, fazemos isso em razão de nossa própria concupiscência. É do coração que procedem as obras carnais (Mt 15.19 e Gl 5.19-21). Pôr toda a culpa no Inimigo e depois dirigir-lhe palavras de ofensa é fácil! Difícil é se santificar e resistir até ao sangue, combatendo contra o pecado (Hb 12.4,14).
Os triunfalistas gostam de bater no peito e dizer: “Eu sou vencedor”. Eles supervalorizam as suas declarações de fé e, por isso, vivem “profetizando” que o Brasil ou certa cidade são do Senhor Jesus… No entanto, se não houver compromisso com o Deus da Palavra e com a Palavra de Deus, nada mudará. Quantos já não “abençoaram” esse País?! Precisamos conquistá-lo pela pregação do Evangelho, e não politicamente, pois o Reino de Cristo é espiritual (Jo 18.36 e Rm 14.17).
Se não fizermos a nossa parte, é inútil “decretar” o fechamento de bares e casas de shows, e “profetizar” que cinemas e teatros só apresentarão pretensos filmes e espetáculos evangélicos. O triunfalismo não muda em nada as circunstâncias. Deus quer e pode mudar a situação desse País, mas fará isso por meio de intercessão, evangelização e influência do povo que se chama pelo seu nome (1Tm 2.1-3; 2 Cr 7.14-15; Jr 33.3; 29.13; 31.9; Ef 6.18; Jl 2.12,17; Mc 16.15 e Mt 28.19).
O triunfalismo afasta o crente da sã doutrina sem que ele perceba, levando-o a pensar que as aflições não são uma realidade da vida cristã (1Pd 5.8-10; 2Co 8.1-2; Rm 8.18; 2Co 1.6; 1Pd 2.19-21 e 2Tm 3.12). A nossa vitoriosa caminhada rumo ao Céu deve ser caracterizada pela renúncia do “eu” (Lc 9.23; Fp 3.13-14; 2Tm 2.3; 2Co 1.5 e 2.4). Portanto, lembremo-nos das palavras de João Batista acerca de Jesus: “… que ele cresça e que eu diminua”, Jo 3.30.
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